3 de fevereiro de 2009

Romeu e Julieta

William Shakespeare, 1595-6, Inglaterra

O que dizer sobre esta famosíssima obra da literatura universal? Diria eu que trata-se de uma história de amor? Não é tudo... Diria que versa sobre a alma humana? Poderia... Entretanto, qualquer coisa que disser será precária se comparada à complexidade e riqueza do texto shakesperiano que, assim como as grandes obras do gênio humano, oferece-nos uma gama infinda de interpretações, níveis variados de leitura e uma profusão de sentimentos despertados. Shakespeare é um acontecimento e será tanto melhor aproveitado se for vivido em sua inteireza.

Essa pequena seleção de belíssimos trechos é mais do que suficiente para ratificar meu argumento:

O ódio dá muito
trabalho por aqui; mas mais, o amor.
Então, amor brigão! Ó ódio amoroso!
És tudo, sim; do nada foste criado
desde o princípio. Leviandade grave,
vaidade séria, caos imano e informe
de belas aparências, chumbo leve,
fumaça luminosa, chama fria,
saúde doente, sono sempre esperto,
que não é nunca o que é. Eis aí o amor
que eu sinto e que me causa apenas dor.
(Romeu - Ato I, Cena I)

O amor é dos suspiros a fumaça;
puro, é fogo que os olhos ameaça;
revolto, um mar de lágrimas de amantes...
Que mais será? Loucura temperada,
fel ingrato, doçura refinada.
(Romeu - Ato I, Cena I)

Mas o amor, em tamanha extremidade,
sabe fazer da dor felicidade.
(Prólogo - Ato II)

Meu inimigo é apenas o teu nome.
Continuarias sendo o que és, se acaso
Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio?
Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto,
nem parte alguma que pertença ao corpo.
Sê outro nome. Que há num simples nome?
O que chamamos rosa, sob uma outra
designação teria igual perfume.
Assim Romeu, se não tivesse o nome
de Romeu, conservara a tão preciosa
perfeição que dele é sem esse título.
Romeu, risca teu nome, e, em troca dele,
que não é parte alguma de ti mesmo,
fica comigo inteira.
(Julieta - Ato II, Cena II)

Essas violentas alegrias têm fim também violento,
falecendo no tempo, como a pólvora
e o fogo, que num beijo se consomem.
O mel mais delicioso é repugnante
por sua própria delícia, confundindo
com seu sabor o paladar mais ávido.
Tem, pois, moderação, que o vagaroso,
como o apressado, atrasam-se do pouso.
(Frei Lourenço - Ato II, Cena VI)

Mais rico o sentimento em conteúdo
do que em palavras, sente-se orgulhoso
com a própria essência, não com os ornamentos.
(Julieta - Ato II, Cena VI)

Ainda e sempre em lágrimas? Que é isso?
Sempre a chover? Num corpo pequenino,
o mar imitar queres, barco, ventos?
Pois teus olhos, a que de mar eu chamo,
fluxo e refluxo mostram, só de lágrimas;
teu corpo é o barco nesse mar salgado;
teus suspiros, os ventos, que em conflito
permanente com as lágrimas se encontram
e que hão de soçobrar-te o frágil corpo
tão maltratado pela tempestade,
se não fizer a tempo calmaria.
(Capuleto - Ato III, Cena V)

Quão doce deve ser o amor possuído
se assim tão venturoso é sua sombra!
(Romeu - Ato V, Cena I)

Triunfe o amor, e eis tudo resolvido.
(Julieta - Ato IV, Cena I)

Nenhum comentário: