14 de julho de 2006

Terra dos Homens

Antoine de Saint-Exupérry, 1939, França

“Saint-Exupérry tornou-se piloto civil aos 21 anos. Aos 26 integrou a equipe que foi sobrevoar o Saara e os Andes levando o correio aéreo da Europa para a África e a América do Sul. [...] Como devia ser a emoção de voar em aparelhos tão pequenos, contando apenas com a hélice e sem nenhuma pressurização? É dessa emoção a matéria desse livro”, escreve Armando Nogueira para a edição brasileira da obra, pela editora Nova Fronteira.

Acrescente-se a isso a emoção das palavras! Nas páginas de Terra dos Homens encontrarás um belíssimo texto de memórias, uma linguagem poética encantadora; e tudo isso maravilhosamente traduzido para o Português por Rubem Braga.

Destaco um capítulo: “O avião”.

Trata-se de uma acurada reflexão filosófica sobre o relacionamento do homem com a técnica e a tecnologia. Nele, Saint-Exupérry nos ensina:

“Se às vezes julgamos que a máquina domina o homem é talvez porque ainda não temos perspectiva bastante para julgar os efeitos de transformações tão rápidas como essas que sofremos. Que são cem anos da história da máquina em face dos duzentos mil anos da história do homem? Ainda nem acabamos de nos instalar nesta paisagem de minas e de centrais elétricas. Ainda nem nos sentimos moradores desta casa nova que nem sequer acabamos de construir. Tudo mudou tão depressa em volta de nós: relações humanas, condições de trabalho, costumes... Até mesmo a nossa psicologia foi subvertida em suas bases mais íntimas. As noções de separação, ausência, distância, regresso, são realidades diferentes no seio de palavras que permaneceram as mesmas. Para apreender o mundo de hoje usamos uma linguagem que foi feita para o mundo de ontem. E a vida do passado parece corresponder melhor à nossa natureza apenas porque corresponde melhor à nossa linguagem.
Cada progresso nos expulsou para um pouco mais longe ainda de hábitos adquiridos; na verdade somos emigrantes que ainda não fundaram a sua pátria” (p. 43-44).

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