3 de setembro de 2005

Contos Amazônicos

Inglês de Souza, 1893, Brasil

Ao todo são nove histórias que proporcionam ao leitor um mergulho no universo dos brasileiros que habitavam a região amazônica no século XIX.

O autor é considerado o pioneiro da escola Realista-Naturalista no Brasil e, nesse sentido, a obra chega a ser um documento histórico; literatura que transmite vivamente a linguagem, o vocabulário, as condições de vida e os costumes dos 'amazônicos'. O olhar de Inglês de Souza se volta, principalmente, aos desfavorecidos; brasileiros oprimidos pela grandeza da floresta e que dela se valem para sobrevivência. E é dessa pobreza e simplicidade, além da estonteante fauna e flora, que surge a grande riqueza do livro: a cultura particular de um povo.

Um dos traços culturais recorrentes na obra é o sincretismo entre a religiosidade católica, crendices, bruxaria e feitiçaria, fato marcante da cultura brasileira como um todo. As famosas lendas amazônicas não são esquecidas, como a do Boto que se transfigura em homem para raptar moças e levá-las para o fundo das águas.

Vale destacar a profunda sensibilidade do autor nessa bela análise psicológica do caboclo da selva:

“É naturalmente melancólica a gente da beira do rio. Face a face toda a vida com a natureza grandiosa e solene, mas monótona e triste do Amazonas, isolada e distante da agitação social, concentra-se a alma em um apático recolhimento, que se traduz externamente pela tristeza do semblante e pela gravidade do gesto. [...] O caboclo não ri, sorri apenas” (p.25).

Do lado da História Geral, a Cabanagem, revolta social mais importante do período da regência, desenrolada no Pará e cujos integrantes eram da camada mais pobre da população, é retratada em Contos Amazônicos de uma forma interessantemente imparcial (vale conferir no último conto, O Rebelde). Em outro ponto, Inglês de Souza ilustra a repercussão da Guerra do Paraguai no norte paraense, onde o alistamento “voluntário” de combatentes transtornou a população. “O povo comentava o caso, analisava a fisionomia dos novos soldados, daqueles heróicos defensores da pátria, carneiros levados em récua para o açougue” (p.33).

Histórias de tristeza, resignação, luta, fantasia e folclore. Bom texto, leitura rápida e interessante.

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