27 de abril de 2005

Sobre o Tempo (não-ficção)

Norbert Elias, 1984, Alemanha

O que é o tempo? Qual sua definição mais coerente? A partir dessas perguntas, surge um ensaio intrigante que tenta contribuir para a elaboração de um conceito adequado sobre o ‘tempo’. Conceito esse que avalia as tradições físicas e filosóficas que já fizeram essa busca, e desmistifica a departamentalização das respostas que separam o homem (social) da natureza (física). Outra grande qualidade do texto é trazer à luz – com bastante propriedade – novas reflexões sobre diversas áreas do conhecimento humano.

O sociólogo alemão afirma que o tempo não existe em si, não é um dado objetivo à disposição do ‘sujeito do conhecimento’, tampouco se trata de uma elaboração subjetiva de cada indivíduo. Segundo ele, “o tempo é, antes de tudo, um símbolo social, resultado de um longo processo de aprendizagem” (cc).

Através de uma exploração sociológica, o livro “formula a questão muito geral de saber com que objetivo os homens necessitam determinar o tempo” (p. 13). No contexto dessa proposta, Elias reflete, recorrentemente, sobre o aspecto fundamental do ‘processo civilizador’; processo “que contribui para formar os hábitos sociais que são parte integrante de qualquer estrutura de personalidade” (p.14).

Não há como afastar, daquilo que se percebe como o tempo, as influências significantes da linguagem e de uma cultura herdada. Esse é o alicerce central da argumentação do autor.
Nas palavras de Elias: “O estudo do ‘tempo’ é o de uma realidade humana inserida na natureza, e não de uma ‘natureza’ e uma realidade humana separadas” (p. 79).

“Repetimos: a auto-regulação ‘temporal’ com que deparamos em quase todas as sociedades avançadas não é um dado biológico, ligado à natureza humana, nem tampouco um dado metafísico, ligado a algum a priori imaginário, porém um dado social, um aspecto da evolução social da estrutura de personalidade, que, como tal, torna-se parte integrante da individualidade de cada um” (p. 119).

A obra não é de leitura fácil, apresenta uma erudição que pode incomodar ao leitor comum. Mesmo assim, mesmo não alcançando a totalidade do entendimento, não se pode negar um aprendizado interessante, um novo entendimento que desvia o olhar – sobre o tempo – do lugar comum.

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